Afrodite: ¤ Era um lugar escuro e inóspito, onde nada se via nada se ouvia e nada se sentia. A consciência se perdia, fractada em frações minúsculas do que fora um dia, ela mal se expressava. Jamais saberia que ainda existia não fosse aquela voz macia que lhe ceifava a paz eterna, o vasto vazio de sua solidão. ¤ “-Afrodite?” ¤ A voz dizia. Era terna. Um corpo nu é retirado de um lago de gelo e deixado no
chão. O lago abaixo do corpo deitado é profundo, não se vê um fim. Ele se estende para o horizonte como a eternidade, e para baixo, tão profundo quanto te atreves a ir. Era um cadáver sem vida. A pele escura e manchada, a carcaça nua tremia em sua psicose. Seu corpo tendia a hipotermia e o frio lhe perfurava a carne como mil navalhas. Subitamente, o defunto redescobria o que era a dor, e um grito disforme ecoou pelo vazio daquele deserto, um gemido carregado de tamanha demência que não deveria pertencer a um ser humano. ¤ “-Acorde Afrodite. Tenho uma missão para você.” ¤ A voz insistia, sem arrancar reação do homem fraco no chão. Sabia que era bela. Era a voz que um anjo deveria ter. Não... Que um Deus deveria ter! Em sua demência profunda, ele havia redescoberto o medo. O medo do timbre
angelical que lhe tirava do sono profundo. Não se lembrava de nada, não sabia de quem era, não ainda. E a mão sob o capuz escuro lhe tocou o rosto. Seus olhos se abriram e percebeu que podia enxergar. Ao contemplar o Deus, anjo ou demônio na sua frente, seus lábios tremeram e percebeu também que podia falar – a última de suas descobertas antes de recuperar a noção de existir. ¤ “-Sim... Mestre.” ¤ As pontas dos dedos se movem sob a terra pisada, e um impulso incontrolável o leva para cima. Estava respirando, estava na Grécia. Nada poderia substituir aquela sensação, o prazer animal de existir. A cada tragada de ar que dava, sentia a alegria lhe invadindo. Seu corpo havia de alguma forma se recomposto, até o último fio de cabelo. Estava trajado numa armadura negra, tão ou mais poderosa que
tua antecessora. O metal vibrava em seu corpo como se vivesse. Naturalmente só era encontrado nas profundezas de Gaia, diferente dos metais mortos da crosta. Seu corpo estava coberto por um capuz espectral, e Afrodite percebia que junto com ele, haviam outros. Não havia nada a ser dito, todos sabiam o que fazer ali. A deusa Athena nunca havia dado nada em troca de suas juventudes, e agora iria pagar por isso. Ah, o vento que o litoral trazia fazia vibrar o capuz do fantasma. A brisa em seu rosto e o cheiro da terra molhada lhe lembrava de tempos passados, quando tudo era mais belo. Mas Afrodite aprendeu que até o mais bravo herói tomba quando se entrega a vaidade. Via a vegetação do local com olhares nunca antes tais – jamais quereria voltar para o inferno da oitava prisão, aonde o sol
nunca chega para aliviar os rigores do inverno. Os espectros caminharam juntos pela noite, na direção do santuário. Conversavam sem falar, e ouviam sem escutar, num diálogo peculiar cabível apenas aos fantasmas que eram. Como sombras na noite, eles se escondiam em cada penumbra do caminho. Dois espectros ficaram na casa de Áries e os outros quatro seguiram. Na casa de Touro, o número deles diminui para três, até só sobrarem dois na casa de Leão. E quando o rumo de suas trilhas o levou até a casa de Virgem, o último dos espectros passou impune. Estava sozinho diante da escadaria que conhecia tão bem. Seu passo produzia um som metálico ao tocar o mármore dos degraus, e deixou que a nostalgia lhe invadisse ao entrar em cada casa, se fez sentir cada grito e cada ferimento das batalhas que ali
calharam. Ao fim de seu caminho, O espectro de Peixes chegava aos umbrais da última casa. Levantou o olhar para o céu estrelado, e o observou. O firmamento o fez chorar, e seu sangue caiu como pétalas. A única prova da desonra do guerreiro. Ao inclinar o rosto para cima, o capuz desliza delicadamente por sua face macia, revelando a beleza inconfundível que lhe fez famoso. A vitória coroa o mais
forte, e o rosto perfeito de Afrodite era a prova de que nunca havia sido ferido até o dia de sua morte. Os lábios escarlates e as pupilas cintilantes adornavam seu rosto esculpido por anjos. Sua íris era tão azul quando o Mar Egeu no verão, e já havia causado inveja a uma Deusa. Ele torna a olhar para baixo e a lágrima vermelha some de seu semblante.
Uma rosa negra se materializa em sua mão direita e ele a dedilha antes de dar os últimos passos para os umbrais da casa de Peixes. Rosas vermelhas floresceram no jardim que se estendia até além do mármore. O vento carregava a fragrância das rosas pelos ares. Se alguém tragasse tal aroma, o sentido da vida não seria outro senão senti-lo outra vez. O homem que respirasse aquele ar nunca mais desejar
outra coisa. ¤
Eu: Um cavaleiro decidido a desvendar as profundezas do cosmo. Esse é Shun, cavaleiro de Andrômeda, que escolheu lutar como bússola em sua busca pela essência humana. Sua tentativa de transcender um plano, revela-se em: "barrar" Afrodite, assim, conseguindo tempo, tentaria finalmente por um fim na guerra-santa. Esse era o seu plano e objetivo, era assim que ele pensava, era assim que seria, vidas que se perdem e se encontram em labirintos formados pelo próprio medo, meticulosamente estruturado. Eram os últimos cavaleiros que ainda estavam de pé, tudo dependeria unicamente e exclusivamente do cavaleiro de Andrômeda, que já o esperava ansioso em sua morada.
" Afrodite, foi aqui onde tudo começou. E será aqui que terminará.. Eu não entendo porque vocês cavaleiros de Athena venderam às suas almas para uma coisa tão má.. Para algo que jamais um cavaleiro bondoso faria.. Espero poder não ter que lutar.. Não gostaria de ter que enfrentá-lo mais uma, mas sei que isso é apenas um pensamento bobo, dessa vez agirei firme, serei firme... Protegerei Saori com a minha vida, protegerei esse mundo com a minha força. Seiya, Hyoga, Ikki e Shiryu! Vocês irão se orgulhar de mim, vocês irão.. Eu prometo proteger a vida da pobre Saori, que há tempos viveu sofrendo por conta de guerras.. Colocarei um ponto final nesse cansativo caminho.. Vocês se orgulharão de mim. "
Seu olhar era confiante e seu pensamento convicto, força sublime que o dava forças. Santo de bronze que lutaria por todos. Apesar da situação desesperadora, Shun não estava com medo, estava determinado, uma determinação jamais vista e sentida pelo garoto que usaria todo o seu poder para lutar. Seu coração era tomado por esperança, inundado de confiança. Em passos calmos ele se pôs frente a morada de peixes, esperando por ali o seu maior inimigo. Do alto do santuário o garoto pode avistar aquela linda paisagem que o confortara de imediato, deixando-o maravilhado por instantes. Pensativo o garoto estava, procurando respostas para todas aquelas maldades no seu lindo planeta, no planeta em quê: nasceu, cresceu e se tornou cavaleiro... Se tornou um homem.
" Passamos por tantas coisas juntos.. Tantos desafios, tantos apertos, tantas batalhas... E agora estou só... Não espiritualmente, pois carrego a vida de vocês em meu coração. Mas sim fisicamente, gostaria tanto de poder sentir o seu abraço mais uma vez Ikki... Espero que todos vocês estejam bem.. N-não, não! Eu sei que estão bem, num lugar mais bonito.. Num lugar melhor, eu acredito nisso, e sempre acreditarei.. Me perdoem por não poder estar com vocês, mas saibam que um dia eu estarei, e lamento por esse dia não ser hoje.. Pois hoje eu estarei lutando, lutando para salvar o mundo, e é por isso que não posso morrer..."
O garoto esmagou o punho, semi-cerrando o olhar levando-o de encontro à sua mão, fitando-a, observando-a calmamente:
" Esse punho que me salvou inúmeras vezes. Fora esse punho e o meu... "
Levou a mão de encontro ao peito, apertando-o por cima da armadura:
" Coração.. Esse coração que se tornou tão forte capaz de suportar qualquer tipo de dor, qualquer tipo de incompreensão. Agora eu entendo, agora eu sei como os meus amigos se sentiam ao lutar! Essa sensação é tão boa, ela me conforta de uma maneira inexplicável.. "
Respirou fundo, dilatando os seus pulmões com aquele puro ar, com aquela sensação intrigante. Ele há tempos não sabia o quê era: "respirar", e achava que quando fazia mais depressa, era uma falta de ar, uma energia que esmagava o seu coração, envolvendo-o em dor.
" Eu não me lembrava dessa sensação tão boa que é poder respirar.. Poder olhar, poder sentir, poder escutar, poder caminhar... Ah.. Esse mundo é tão belo, as coisas são tão belas... E as pessoas gananciosas. E mesmo assim, todos no mundo já sentiram amor e apreço por alguém.. E é esse amor que nos faz continuar.. "
Barulhos de passos fora o rompimento do silêncio, desviando o olhar de Andrômeda para o fim do escadarão, que agora era coberto por um mar de rosas. Rosas vermelhas que brilhavam como iluminadas chamas, essas que convidavam o jovem garoto para uma dança. Fora firme, não se rendendo aos caprichos daquele solo marejado de maldade. A batalha estava próxima:
- Afrodite! Afrodite! Apareça.. -
O chamado do garoto fora altivo, era o grito de seu coração. As pernas se distanciaram, ficando firmes sobre aquele solo marmoreado. E o cosmo fez-se ascender, elevando-se de virtude, elevando-se com o ar oculto em seu coração. O vento era denso, carregava em si uma enorme culpa, essa que Andrômeda deixou para longe - por conta do cosmo quente, ele pode dissipar o veneno. Esticou a mão direita sobre a sua corrente, puxando-a com a mão esquerda, se preparando para o temido combate.
Afrodite: • “- Nos encontramos de novo, Andrômeda.” ¤ As palavras lhe escapavam dos lábios, serpenteando a noite sem fim. A voz de Afrodite era madura, porém delicada. A luva metálica emergiu lentamente do capuz espectral que encobria o fantasma, agarrando-o em riste ao punho fechado e o atirando-o ao vento que carregava a fragrância, mais e mais. A cada instante que passava, as rosas reais voltavam a tomar sua antiga forma e glória ao lado de seu amo. Agora o cavaleiro de bronze poderia testemunhar com os próprios olhos a versão negra da armadura de peixes. As escamas sobrepostas da armadura traziam o medo com elas, lado a lado, como os corais da rebentação escura. As pupilas cintilantes davam ares hipnóticos ao semblante do homem que costumava guardar a décima segunda casa, seus lábios escarlates não tinham uma beleza menos marmórea do que os pilares milenares daquela bastilha. O Jardim de Afrodite respirava em ressonância ao imenso cosmo que emanava do espectro e ele dedilhava a rosa negra entre os dedos, sem desviar o olhar plácido do cavaleiro de Andrômeda. Um filete de sangue sobreveio de seu indicador para a fria proteção metálica da sapuris, talvez de propósito. Vinhas cinzentas se arrastavam pelo chão numa velocidade ausente em quaisquer outros vegetais do planeta, e o espectro encarava o cavaleiro de Andrômeda com um olhar indecifrável, tal que grande maldade se escondia em seus olhos vazios. O cavaleiro de bronze teria de usurpar todo o cosmo para tocar Afrodite, que estava completamente concentrado nas mais sutis minúcias dos movimentos de Shun. Para um guerreiro experiente como um cavaleiro de Athena, é fácil ler os movimentos do oponente, mas Afrodite estava impenetrável, nem um único pensamento dissonante lhe escapava da mente. ¤ “- Me ataque, Andrômeda, se está tão certo de seus objetivos. Terá uma chance. Fique certo de que se falhar, morrerá.” ¤ Mas como ele poderia, se a casa de Peixes conspirava à favor de Afrodite? ¤
Eu: - Sim Afrodite nos encontramos de novo... Não gostaria que fosse desse jeito. Não gostaria que fosse para começar mais uma batalha dolorosa. -
Respondia com firmeza, olhando para o espectro, que agora retirava o capuz. Fitando-o com tristeza, essa que escorria em forma de uma lágrima que caminhava calmamente pela face do garoto, desenhando-se em seu semblante. Ele sabia que não adiantaria pedir, implorar e suplicar, para que o ex-santo parasse com aquela atrocidade.
- Afrodite! Não importa o que aconteça, ou o que diga! Eu apenas continuarei lutando.. Lutando por tudo isso.. Lutando por todos! E nada que faça me deixará desistir, desistir do sonho de todos aqueles que eu amo. -
Ele não demonstrava medo, estava convicto de suas palavras e ações. Estava certo de que lutariam mais uma vez, lutariam agora para decidir o futuro.
- Se eu perder aqui. O mundo acabará. Sou o único homem que pode proteger esse lindo mundo... Proteger as pessoas, proteger Athena! Por favor, não me veja apenas como um garoto tolo, não diga essas besteiras! Sabe bem que sou um cavaleiro. Protegerei o mundo, te vencerei a todo custo... Mesmo custando no final a minha vida. Eu não deixarei que chegue ao templo. -
Deu alguns passos, chegando ao começo da entrada. Para frente seria o mesmo que morrer, mas ficar ali seria o mesmo que pedir clemência. Sem medo, ele pisou no firmamento escarlate, amassando algumas das rosas. O pé esquerdo veio junto do direito, se firmando sobre aquele chão.
- As suas rosas... São tão belas, quanto os mais puros dos sentimentos.. E serão elas que lhe tragarão para a sua própria derrota. -
Depois de se pronunciar ligeiro o garoto correu, como se a vida dependesse daquele momento, dependesse da sua corrida desesperada. Os olhos não tinham outro objetivo, à não ser os olhos de Afrodite. Corajoso bradou:
- Corrente de Andrômeda! -
A corrente se multiplicou, inúmeras delas se fizeram. Acertaram o chão, rasgando-o, fazendo com que as rosas voassem aos ares, deixando-as avulsas sobre aquele firmamento de mármore, abrindo caminho para o jovem. A técnica continuava, tornando-se forte pelo cosmo do garoto, tornando-se ligeira pela sua determinação, essa que escorria como suor, tilinta donzela da paz. Ela ia contra o cavaleiro de peixes, talvez fosse um lucro acertá-lo, mas o seu objetivo principal era tirar dali aquelas rosas, tirar dali aquele envolto maldito, que agora se esvaia aos céus. Ele não havia esquecido de nenhum detalhe, apenas começaria, depois que Afrodite se "libertasse" daquele envolto fantasmagórico.
Ele: ¤ Afrodite ouvia plácido, a tudo que o pobre infante balbuciava. Não duvidou de suas palavras, apesar de desdenhar leve desprezo ao ouvir declarações tão ingênuas de um jovem rapaz que mal havia saído de sua fase púbere. Se ele se identificava de alguma forma com o sentimento que as palavras de Andrômeda traziam, estava lacrado em sua mente, preso para sempre em tempos passados de inocência e confidências, quando os dias ainda eram jovens para sua alma de pisciano, que se via como uma piscina calma – o signo solar que mais fez jus ao seu elemento era o dele. O signo de peixes carregara toda a maturidade empírica do elemento da água. Era profundo e calmo, apesar de guardar tormentas em seu coração, que exibia à frente do peito, sem jamais dividi-lo.
Durante sua jornada pelo mundo dos vivos, Afrodite refletia na superfície de sua mente fluida as coisas que aprendera. – a graça das coisas como são, e não da vida como está, é o que o encantara desde suas memórias mais ímpias – era sua sina, seu carma, este seu comprometimento com a beleza. Agora sua piscina estava calma – era possível enxergar o azul áureo de seu interior, que toma formas e cores conforme se aprofundam em um abismo imenso que abriga o cosmo daquele homem. O ar em seus pulmões era superficial e emprestado, a vida em seus olhos jamais esteve como antes, fora corrompido pela voz do anjo negro que o despertara. A rosa negra em seus dedos desenhava uma cena por demais bucólica e inadequada ao que costumava ser o cavaleiro de peixes. Mesmo assim, Afrodite olhou seu reflexo no mármore... E viu apenas glória.
Quando o primeiro músculo do cavaleiro de bronze fez menção em mover-se, o olhar do espectro de peixes o fitava como alvo, opaco. Se Andrômeda o olhasse nos olhos, teria a impressão de estar na frente de uma estátua. Uma estátua de tão magnífica estrutura que não poderia ser comparada a Vênus, ou Ishtar, ou Callíope. Era a obra prima da beleza estrutural, poderia ser um anjo saído de um quadro de Botticelli, seu corpo nu poderia estar pintado em capelas por toda a idade das trevas e ninguém ousaria contestar sua perfeição. Os pensamentos de Afrodite eram particulares, mas a superfície de sua consciência apresentava, como num lago sob o vento, pequenas ondas caóticas causadas pelos sentimentos que aos poucos redescobria – o que lhe definia como ser humano, sentia desdém pelas palavras do pobre cavaleiro de bronze. Não – sentia nojo. Era bom que o pequeno não tivesse medo, assim poderia matá-lo com graça e impiedade. Sua forma estática assim permaneceu ao primeiro passo de Andrômeda até os
umbrais da casa de Peixes. Sentia as vibrações do ambiente, e logo tomou consciência do pé pequenino sobre a armadura pesada de metal mágico – imbuído em cosmo de constelações inteiras. Flores eram esmagadas pelo pisar daquele menino, libertando no ar sua fragrância como um último suspiro. Pétalas de flores caíram para os braços do vento rasante como lágrimas. Era a sua deixa. O sangue de Andrômeda jorraria como pétalas. Via tranquilamente o cavaleiro começando a correr, e quase sentia que não precisava ter pressa. A cada passo que dava em sua corrida frenética, Afrodite sentia que estava mais próximo de sair de sua inércia. E então o fez, com uma velocidade que não deveria pertencer à um corpo material – era um facho de luz. Em seu penúltimo passo, no pisar de seu destro, a ponto de pegar o impulso para a corrente, Andrômeda sentiria o cosmo de Afrodite a queima roupa. Seus pés foram envolvidos pelas vinhas e cipós que Afrodite havia conjurado por sob o jardim, possivelmente tomando-lhe o equilíbrio e o impulso. O espectro de peixes já havia sumido de onde estava, milésimos antes do cavaleiro de Bronze se dar conta da armadilha em seus pés. Pará-lo era impossível. Atrasá-lo? Plausível. O fantasma estava com os joelhos flexionados, havia dado um salto pelo espaço da escadaria, passando por Shun numa volta de 130º, e seus pés mal tocaram o chão. Estava em sua diagonal, perto do chão, onde estava seguro com suas rosas. A flor negra riste em seus dedos tremulou. E seu grito lhe escapou como um sussurro, como um convite à morte. ¤ “-Experimente... As rosas negras!” ¤ E a lançou em um universo de possibilidades onde todo o cosmo do oceano profundo de seu coração a apontava para uma única direção – a armadura de bronze, e qualquer coisa que nela tenha vida. As pétalas de rosas se multiplicavam as milhares, todas na direção do cavaleiro de Andrômeda, como um turbilhão descontrolado – Nada poderia parar aquelas navalhas mortais, nem sua corrente, nem a armadura de bronze! Desmancharia como a carne
quando se rende ao aço frio, para ser dilacerada como papel. ¤
Eu: O ataque continuava, era ligeiro e buscava de certo o seu destino. Esse que agora voava aos céus. Afrodite não estava mais lá, pode-se ser visto apenas um feixe de luz, esse feixe que agora partira para trás de Shun. Raízes brotaram aos seus pés. A corrente não parou de interagir com o ar, o garoto estava certo de que não sairia ileso, ou até mesmo não sairia dali. Mas sabia que teria que vencê-lo, sabia que era a sua obrigação como o defensor da justiça. As mentiras que outrora fora o bálsamo para batalhas sem significados, mais uma vez estava de volta, invadindo o coração das pessoas mais "fracas". O coração do garoto era forte. Era tão forte que nem mesmo o poder superior de um cavaleiro de ouro o abateu, não deixando-o amedrontado. Ele estava diferente, jamais fora sentido e visto uma aura tão penetrante no cavaleiro de Andrômeda, essa que envolvia todo o seu corpo, deixando-o encorajado à lutar. Ouviu ao pé de seu ouvido, uma forma de sussurro. Esse que o deixou inerte por questão de milésimos, fazendo com que pensasse por impulso, ou agisse diretamente com o coração. E as últimas palavras que balbuciou foram:
- Onda Relâmpago. -
Fora ligeiramente mudando de curso, fazendo o oposto do caminho. A corrente pontiaguda bateu ao chão, tirando-lhe uma lasca, fazendo com que aquele pedaço de mármore voasse ao vento. Ela voltou depressa, indo contra a direção do vento, passando por de cima de Shun, esse que agora era acertado pela técnica de seu rival. Voando a muitos metros, o garoto pode se sentir diferente, imóvel. Aquele golpe havia findado a vida de qualquer pobre coitado, e não fora diferente com Shun, deixando as costas da armadura totalmente destruída, não só essa, como os braços também. Não fora um milagre, mas talvez uma ironia do destino. A corrente continuou o seu percurso, serpenteando aos céus. Talvez Afrodite não percebesse mas está estava nas suas costas pronta para atacá-lo nas costelas. Apenas uma coisa fizera com que esse: "milagre" acontece-se; apenas uma coisa: A vontade de vencer, a vontade de continuar, o amor, o sentimento, a terra. Uma unica coisa lhe veio a cabeça, uma unica pessoa o fez se lembrar. Talvez fosse uma promessa há muito tempo, talvez fosse um delírio, mas ofegante o garoto pronunciou, agora aterrissando sobre solo sagrado:
- J-june.. J-june.. Agh... M-me desculpe, J-june.. -
Talvez fosse o fim, talvez fosse o início, só saberia se levantasse; se voltasse a lutar...